Modulação do Microbioma Intestinal e o Crescente Risco de Alergias em Cães

A composição e a função do microbioma intestinal infantil estão profundamente relacionadas a múltiplos fatores ambientais, especialmente nos “primeiros 1000 dias” de vida — desde o desenvolvimento intrauterino até os primeiros dois anos. Esse período é decisivo para a formação da estrutura e função do microbioma, que, quando bem estabelecido, favorece a eubiose intestinal, a integridade da barreira intestinal e a proteção de longo prazo contra doenças crônicas, como as alergias alimentares. O caminho ideal inclui gestação a termo, parto espontâneo, amamentação materna baseada em uma dieta rica e natural, exposição precoce a ambientes rurais e alimentação com alta quantidade de fibras e alimentos fermentados.

Por outro lado, práticas como parto cesariano, dieta materna baseada em alimentos ultraprocessados e pobre em fibras, e a exposição precoce a agentes antissépticos e medicamentos (especialmente antibióticos e inibidores da acidez gástrica) levam à disbiose intestinal, aumento da permeabilidade da barreira intestinal e maior risco de doenças alérgicas.

Essa mesma lógica pode (e deve) ser refletida no universo dos cães. Atualmente, vemos muitos filhotes nascendo de cesarianas programadas, privados de um tempo adequado de amamentação, vivendo em ambientes excessivamente “estéreis” e confinados dentro de casas e apartamentos. Além disso, grande parte desses animais é alimentada desde cedo com rações ultraprocessadas de baixa qualidade nutricional, frequentemente ricas em carboidratos refinados e pobres em fibras e nutrientes naturais.

É justamente nesse contexto que se observa uma prevalência crescente de doenças alérgicas em cães, como a dermatite atópica. Diante disso, fica o questionamento: será que o manejo atual — e não apenas a genética — está contribuindo de forma decisiva para tornar nossos pets muito mais propensos a desenvolver processos alérgicos? Será que não estamos, inadvertidamente, criando condições que favorecem a disbiose e a perda da tolerância imunológica também nos nossos animais de estimação?

Texto baseado no artigo Gut Microbiome Modulation for Preventing and Treating Pediatric Food Allergies

Fernando Bittencourt Luciano

Farmacêutico e doutor em Ciências dos Alimentos, com uma trajetória que une ciência, inovação e empreendedorismo. Atualmente, é professor no Programa de Pós Graduação em Ciência Animal PUCPR e sócio na Wesen Green. Sua pesquisa é voltada para o uso de compostos naturais com ação antimicrobiana e anti-inflamatória, buscando desenvolver soluções inovadoras e seguras para promover a saúde e o bem-estar de cães e gatos.

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