Microbioma de Referência na Pele Canina: Base para Diagnóstico de Disbiose

O artigo A 5-month temporal, quantitative study investigating the core microbiome on the axilla, umbilical region, and groin of 15 healthy dogs in the UK in: American Journal of Veterinary Research – Ahead of print descreve um estudo que teve como objetivo identificar a flora cutânea central da pele de cães saudáveis. A “flora central” refere-se aos microrganismos encontrados de forma consistente em locais corporais semelhantes entre diferentes indivíduos ou que permanecem estáveis ao longo do tempo. Compreender essa comunidade microbiana normal é essencial, pois o conhecimento da flora normal ajuda a reconhecer alterações ou disbiose, que se sabe ocorrer em condições como doenças alérgicas da pele, como a dermatite atópica.

Os pesquisadores conduziram um estudo de cinco meses com 15 cães saudáveis, coletando amostras por swab mensalmente de três locais específicos: axila, região umbilical e virilha. Esses locais foram escolhidos em parte porque permitiam a coleta sem necessidade de tosa dos pelos, respeitando as considerações éticas do estudo. Utilizando técnicas avançadas de sequenciamento (sequenciamento de nova geração do 16S rRNA (identificação de bactéria) e do espaçador interno transcrito (ITS – identificação de fungos) 2), eles analisaram as comunidades bacterianas e fúngicas presentes.

Com base na identificação de espécies microbianas em mais de 70% das amostras coletadas, o estudo propôs cinco espécies como candidatas ao bioma cutâneo central de cães saudáveis: Staphylococcus coagulase-negativos, Sphingomonas subsp., Malassezia var., Vishniacozyma victoriae e Cladosporium var. É importante observar que, embora essas espécies tenham sido encontradas com frequência, nenhuma delas esteve presente em todos os cães em todos os momentos de coleta. Outros microrganismos, como Corynebacterium kroppenstedtii e Rothia kristinae, também foram frequentemente identificados e são considerados comuns na pele humana.

 

 

É relevante destacar que Staphylococcus pseudintermedius e Staphylococcus coagulans, espécies comumente associadas a casos de piodermite canina, são exemplos de estafilococos coagulase-positivos, diferentemente dos estafilococos coagulase-negativos que predominam na pele de animais saudáveis. Em humanos, já existem probióticos tópicos em desenvolvimento baseados em estafilococos coagulase-negativos, como Staphylococcus hominis, espécie nativa da pele humana que possui a capacidade de reduzir a população de Staphylococcus aureus. Estratégias semelhantes poderão ser adaptadas para a dermatologia veterinária no futuro, visando o reequilíbrio microbiano como forma de prevenção de infecções.

 

 

Além disso, análises de microbioma já permitem predizer a predisposição dos animais para recidivas de infecções cutâneas e avaliar se os produtos utilizados no manejo da dermatite atópica canina (DAC) estão sendo eficazes para determinado paciente. Nos Estados Unidos, essas análises vêm sendo realizadas pela empresa MiDog, da Califórnia, que atualmente processa mais de 3.000 amostras por mês. Em breve, essa abordagem deverá fazer parte da rotina dos especialistas em dermatologia veterinária no Brasil, oferecendo uma nova ferramenta para personalizar ainda mais o tratamento de doenças cutâneas.

Para os clínicos, o principal ponto de destaque deste estudo é a identificação dos grupos bacterianos e fúngicos esperados como habitantes normais da pele canina saudável. Conhecer a constituição dessa comunidade microbiana é o passo fundamental para diagnosticar e entender quando ocorrem alterações no microbioma em cães que apresentam doenças de pele.

 

Fernando Bittencourt Luciano

Farmacêutico e doutor em Ciências dos Alimentos, com uma trajetória que une ciência, inovação e empreendedorismo. Atualmente, é professor no Programa de Pós Graduação em Ciência Animal PUCPR e sócio na Wesen Green. Sua pesquisa é voltada para o uso de compostos naturais com ação antimicrobiana e anti-inflamatória, buscando desenvolver soluções inovadoras e seguras para promover a saúde e o bem-estar de cães e gatos.

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