A Dermatite Atópica Canina: Papel da Dieta, Microbiota e Suplementos Nutricionais

A dermatite atópica canina (DA) é uma doença inflamatória de pele hereditária, geralmente pruriginosa (com coceira), que exige um manejo multimodal, já que não possui cura. Ela envolve uma interação entre alterações na barreira cutânea, sensibilização a alérgenos e disbiose microbiana. A dieta desempenha um papel grande e crucial em seu manejo.



Para cães diagnosticados com alergia alimentar que desencadeia reações cutâneas adversas, a evitação do ingrediente alergênico específico é essencial para um manejo bem-sucedido. Estima-se que aproximadamente um terço dos cães com DA apresentem alergia alimentar como fator desencadeante dos sintomas cutâneos. Os testes dietéticos são considerados o padrão-ouro para o diagnóstico dessas reações alimentares adversas e devem ser realizados por pelo menos 8 semanas para excluir sintomas induzidos por alimentos. Os alérgenos alimentares mais comuns incluem carne bovina, laticínios, frango, trigo e cordeiro. Devido à possibilidade de contaminação nos alimentos comerciais, dietas prescritas com proteínas hidrolisadas ou compostas por aminoácidos purificados são frequentemente necessárias para um diagnóstico e manejo precisos. Dietas caseiras são ideais, mas menos práticas. Vale lembrar que cães também podem ser alérgicos a ácaros de armazenamento presentes em alimentos secos, sendo necessário o uso de dietas enlatadas ou preparadas em casa nesses casos. A reintrodução da dieta original para confirmação do diagnóstico pode provocar uma piora clínica entre 1 e 14 dias após o desafio.



Curiosamente, mesmo cães atópicos sem diagnóstico de alergia alimentar ou sem sintomas gastrointestinais (GI) aparentes podem se beneficiar de dietas especializadas. Essas dietas, frequentemente suplementadas com ingredientes que apoiam a integridade da barreira cutânea, têm demonstrado benefícios como melhora nos escores de prurido e redução da necessidade de medicamentos.

Sintomas gastrointestinais crônicos concomitantes, como diarreia, vômito, borborigmos (ruídos intestinais) e flatulência são comuns em cães com DA, sendo relatados em cerca de 50% até quase todos os casos em diferentes estudos. A modificação da dieta costuma ser eficaz no manejo desses sintomas GI, e muitas das dietas utilizadas em testes alimentares também são úteis para tratar condições gastrointestinais crônicas.

O trato GI e a pele estão imunologicamente conectados, e acredita-se que a disbiose da microbiota intestinal contribua para o desenvolvimento ou agravamento de condições inflamatórias como a atopia. Cães atópicos apresentam uma microbiota intestinal diferente daquela de cães saudáveis. Embora existam evidências de que a melhora da inflamação GI e dos sintomas se correlaciona com a melhora dos sinais cutâneos, há evidências limitadas, até o momento, que sustentem o uso de probióticos isoladamente no tratamento da DA canina. Considera-se que a dieta tenha maior probabilidade de manter uma microbiota intestinal saudável do que os probióticos atualmente disponíveis.

Com relação às dietas cruas, não há evidências sólidas de que elas ofereçam benefícios adicionais em comparação com dietas cozidas no manejo da DA canina. Embora possam modificar a microbiota intestinal, isso não parece impactar os marcadores inflamatórios sistêmicos.

Texto baseado no artigo The Role of Diet, Nutrition, and Supplements in Canine Atopic Dermatitis – Veterinary Clinics: Small Animal Practice.



Fernando Bittencourt Luciano

Farmacêutico e doutor em Ciências dos Alimentos, com uma trajetória que une ciência, inovação e empreendedorismo. Atualmente, é professor no Programa de Pós Graduação em Ciência Animal PUCPR e sócio na Wesen Green. Sua pesquisa é voltada para o uso de compostos naturais com ação antimicrobiana e anti-inflamatória, buscando desenvolver soluções inovadoras e seguras para promover a saúde e o bem-estar de cães e gatos. 

Wesen
Green

Usamos o poder da natureza para combater as enfermidades de maneira segura, eficaz e que promova bem estar e longevidade para um dos principais membros da família: nosso pet!

Leia também